sábado, 3 de março de 2007

A exclusão do analfabetismo digital

"Se você, deliberadamente, planejar ser menos do que você é capaz de ser, eu lhe aviso que você será profundamente infeliz." (Maslow)

Para falar de Inclusão Digital, não poderia deixar de mencionar um outro assunto pertinente e que está intrinsecamente relacionado à maneira como as pessoas são inseridas em nossa sociedade. Serei suscinto para tentar não parecer um político à procura de votos ou ainda fazer com que a sua consciência fique lembrando o tempo todo que você não está exercendo seu papel no combate à exclusão social.

Primeiramente, para combater a exclusão social são necessários projetos que promovam o desenvolvimento de toda uma sociedade que está à mercê do caos urbano, onde o individualismo e o ceticismo florescem e tornam cada vez mais injusta a competição a que são submetidas milhões de pessoas que mal sabem o significado da palavra inclusão. Treinamos nossos filhos para serem os melhores, os números "1" e os mais competitivos. Mas esquecemos de ensiná-los a arte da coopetição - contração das palavras cooperação e competição, que caracteriza situações em que concorrentes cooperam com o objetivo de obter benefícios para todos. Falta justamente isto: entender que cooperar fortalece tanto quem recebe quanto quem colabora.

Temos de ter projetos que financiem e produzam impacto direto na expansão e melhoria da qualidade de nossa infra-estrutura urbana e passem a permear os serviços sociais com maior fluidez, alcançando as camadas que realmente necessitam de tais empreendimentos. E, daí em diante, abre-se um leque enorme, como investimentos de combate à fome, modernização dos órgãos governamentais, geração de renda e criação de oportunidades. É a partir da criação de oportunidades que começarei a falar sobre a Inclusão Digital. Se você chegou até aqui é porque realmente está interessado no tema e, principalmente, em ajudar a vencer o analfabetismo digital. Bom, vamos em frente. Governo e sociedade começam a dar sinais de que podem trabalhar juntos na erradicação desta moléstia social, que não permite que as classes mais necessitadas tenham acesso às ferramentas que lhes permitirão ter pelo menos o direito de tentar entrar no mercado de trabalho e, com isto, ter uma vida digna e direcionada para o bem maior - a construção de uma sociedade justa e humanitária. Isso significa poder fazer a diferença.

Você está fazendo a diferença hoje? Pergunte à pessoa ao seu lado: você está fazendo a diferença hoje? Vai, não pense que está fazendo um papel ridículo. Pois é justamente isto que bloqueia o avanço de uma sociedade mais aberta e preocupada com o futuro do próximo: a falta de comunicação e oportunidade de contribuir com algo que realmente irá agregar valor para o seu futuro.

A prefeitura de São Paulo, por meio do Governo Eletrônico da Secretaria Municipal de Comunicação e Informação Social, iniciou, em 2001, um projeto considerado o maior na América Latina voltado à Inclusão Social: os chamados Telecentros. São Paulo já conta com 40 unidades instaladas em áreas da cidade consideradas socialmente excluídas, que estão permitindo a mais de 90 mil pessoas o acesso à tecnologia, ou seja, à informação, serviços e conhecimento, de maneira interativa. A meta é chegar a 107 telecentros e atingir algo em torno de 320 mil pessoas na capital. Para tanto, a prefeitura conta com importantes parcerias com entidades da sociedade civil e organizações não-governamentais. Enquanto as primeiras entram com os equipamentos, mão-de-obra e verba de manutenção, as entidades fornecem o espaço físico e auxiliam na gestão do telecentro, bem como desenvolvem projetos sociais que levam aos jovens palestras, dinâmicas de grupo e aulas de informática.

Já no âmbito estadual, uma ação promete ajudar no processo de Inclusão Digital. Denominada "O Povo na Internet", trata-se da adoção dos "flash cards", mais conhecidos como cartões de memória. O governo de São Paulo quer criar um novo conceito de computador popular, com cartão de memória removível, no qual o usuário poderá armazenar arquivos e mensagens eletrônicas. O cartão poderá ser utilizado em terminais instalados em locais públicos, como estações de metrô e hospitais. A meta do governo paulista é chegar aos 10 mil terminais com a ajuda da iniciativa privada.

No âmbito federal, o FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), criado para financiar a inclusão digital da sociedade brasileira por meio do atendimento a escolas, bibliotecas e hospitais, já acumula fundos arrecadados de R$ 2,3 bilhões; porém a velocidade de emprego dessa verba é lenta, prejudicando principalmente 13 mil escolas que precisam de equipamentos. Desta forma, milhares de jovens deixam as escolas rumo ao mercado de trabalho sem perspectiva alguma e sem a mínima noção do funcionamento de um computador.

É claro que apenas a Inclusão Digital não será suficiente para garantir trabalho e qualificação para esses jovens, mas é o começo do processo de nivelamento do conhecimento. Hoje, mesmo quem pode pagar escolas particulares de informática tem problemas de formação. As escolas não possuem programas de qualificação e desenvolvimento profissional que os oriente a enfrentar um mercado cada vez mais competitivo e menos coopetitivo. Cabe à sociedade civil - e nela estão incluídos eu, você e todos aqueles que querem mudar de maneira significativa os rumos da nossa sociedade - fazer com que o amanhã tenha um real significado na vida de milhões de pessoas.

Você está fazendo a diferença hoje? Perguntou à pessoa ao seu lado? Se ele(a) respondeu não, porque então não se perguntar novamente: Por que não contribuir, se você tem capacidade e vontade para mudar esta sociedade?

Existem diversas organizações não-governamentais, as chamadas ONGs, que têm contribuído muito para diminuir o analfabetismo digital e que precisam de pessoas como você para ajudar no trabalho voluntário. Doações também são bem-vindas. Conheça o trabalho destas instituições, identifique-se com o programa e mãos à obra. Veja como você pode participar.

Seguem abaixo alguns sites interessantes que podem lhe trazer informações adicionais. Projeto Aprendiz O Projeto Aprendiz (www.aprendiz.org.br) é uma iniciativa do jornalista Gilberto Dimenstein, do qual sou fã, especialmente por seus comentários no rádio, sempre apresentados com profunda convicção e seriedade. O Aprendiz recruta e seleciona pessoas que desejam ajudar no desenvolvimento de uma educação mais efetiva, experiencial e prazerosa. Neste site, você encontra opiniões de colunistas, guia de empregos, orientação profissional, dicas de sites que auxiliam nos deveres de casas e muitas notícias sobre o Terceiro Setor.

Recomendo também que visite os projetos sócio-educacionais que o Aprendiz conduz no bairro da Vila Madalena... e também que experimente as delícias do Café Aprendiz. Comitê para a Democratização da Informática O CDI - Comitê para a Democratização da Informática (www.cdi.org.br) - representa uma nova perspectiva para a inserção de jovens até então à margem da revolução digital. Neste site, você encontra, além de muita informação sobre Inclusão Digital, a possibilidade de se tornar um voluntário, fazer doação de computadores usados e participar da capacitação profissional de jovens carentes. Garagem Digital O programa da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente (www.fundabrinq.org.br) possui atualmente duas garagens digitais em São Paulo. A primeira foi construída na Associação Meninos do Morumbi (www.meninosdomorumbi.org.br), e atende a segunda turma de 120 jovens, entre 14 a 24 anos. A segunda está instalada no CPA (Centro de Profissionalização de Adolescentes Padre José Bello dos Santos), ligado à Ação Comunitária Paroquial Jardim Colonial, e atende gratuitamente 120 adolescentes no distrito do Iguatemi. Ayrton Senna O Instituto Ayrton Senna (http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna) oferece condições de desenvolvimento humano a crianças e jovens do Brasil por meio da criação, implementação e disseminação de tecnologias sociais.

Para as ONGs que não mencionei neste artigo, prometo que em um próximo terei o prazer de mencionar seus trabalhos. Para tanto, mandem-me suas ações e programas. Para finalizar, gostaria de dizer que embora tenhamos diversas iniciativas para erradicação da exclusão digital, ainda estamos engatinhando.
Há muito trabalho pela frente, além de interesses políticos que deverão ser estirpados, para que não haja descrédito e falta de confiança nas pessoas que realmente querem uma cidade melhor, um país melhor e principalmente um povo orgulhoso e com fome de solidariedade e auto-estima. Portanto, sua ajuda é fundamental nesta transformação social. Sucesso a todos!

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